quinta-feira, 2 de dezembro de 2010

Para minha surpresa e de todos.

O dia quente e abafado, o carro estacionado junto a uma pilha de sacos de lixo, as pessoas no saguão da entrada da emergência aguardavam ansiosas que o relógio da parede indicasse cinco da tarde. Cinco em ponto nos dirigimos a um rapaz franzino de prancheta na mão diante da porta de acesso da emergência, um a um fomos dizendo os nomes de entes que ali estavam internados.
Box 9 e lá estava ela de máscara cirúrgica no rosto, eletrodos ligados a seu peito marcado de cicatrizes, na veia do pescoço a mangueira de soro e medicamentos diversos, de quatro bolsas penduradas num mancebo, no antebraço direito o medidor de pressão, o monitor registrando os batimentos, 95 por minuto, inúmeros hematomas espalhados em sua pele denunciavam a fragilidade dos pequenos vasos sanguíneos que se arrebentavam à menor pressão.
Quando me viu seus olhos brilharam, me chamando pelo nome foi logo me apresentando ao enfermeiro Fernando, depois à Ana Paula, depois ao Gilberto e assim foi me apresentando aos enfermeiros e médicos que à essa altura já havia conhecido todos, ela estava alegre, vivaz e com uma energia que eu não sabia de onde vinha.
Feito uma fenix ela surpreendera a todos, saíra do quase coma da noite anterior e agora ali ela estava lúcida.
Conversamos sobre seu estado, não adentrei muito nos diagnósticos todos desfavoráveis e quase sem solução, falamos de amenidades, de providências a serem tomadas logo que ela saísse de lá, falámos do tempo, dos detalhes do hospital, das pessoas que viriam visitá-la logo mais, mais uma vez nossa conversa fora superficial, eu ali diante dela, ainda menino, não me permitira abraçá-la e chamá-la de mãe.
Ainda não estava pronto.

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