sexta-feira, 31 de dezembro de 2010

Começou o fim.

Começou o fim...
o último dia
a última noite
o último alento e o último açoite

o último sorriso
o último abraço
o último espaço
 a ser preenchido.

O último olhar
o último beijar
o último dos últimos
a chegar.

Sê conosco...
o primeiro a chegar,
o primeiro a ficar
e o primeiro a falar...

Fala aos corações
dos mil pecados e mil perdões
banha-nos na Tua luz...
farol que nos conduz...

 Hoje o último dia,
da última noite
do último ano a terminar,
Amanhã será tudo novo,
de novo e novamente
o tempo e sol hão de brilhar.

Amanhã um novo Ano Novo
amanhã e nas demais manhãs...
tudo azul, tudo mel,
abacaxis colibris e hortelãs...

No amanhã o futuro previsto...
Sê conosco hoje e amanhã,
Sê conosco hoje e sempre,
Ave novo tempo e Ave Cristo!

quarta-feira, 29 de dezembro de 2010

Ana Luiza

Somos conhecidos por nossos nomes, o sobrenome vem mostrar de quem somos e de onde somos...se somos da Silva, selva, se somos Pereiras, cristãos novos do tempo em que os "convertidos" ganhavam nomes silvestres. Sou da Silva, selva, de mãe e Cardoso, caudaloso, de pai.

Aqui quero falar de gente nova, de um novo tempo, de novo alento e de novo despertar, falo de Ana.

Falo de Anas, falo de Adrianas, falo de Luizas,
falo de mulheres e que Godóy compreenda,
falo de guerreiras e falo de profetizas.

Sê benvinda pequena Ana,
Analu, Analuz, Ana linda,
Ana do verão, Ana da terra e Ana do céu,
Ana do coração, Ana da espera e Ana do mel.

Ana bela, Ana clara, Ana terra...
Ana flora, Ana cor e Ana amor.
Ana profetisa. Ana sacerdotisa,
Ana poetiza e Ana em flor.

Ana intensa e luz imensa,
Ana vento raio e brisa,
mais que uma só Ana,
sendo Ana de Adriana,
sendo Ana Luiza.

terça-feira, 28 de dezembro de 2010

Ainda ontem

Ainda ontem estávamos lá,
sentados na sala de espera a espera do que chegar
estávamos lá já sabendo o que esperar...

E a notícia veio confirmar
tudo deu certo
apesar da dor
apesar do torpor
e do doloroso despertar...

A cirurgia deu certo
ainda que não estávamos por perto
mas quem somos nós
para decifrar todos os nós
que existem em todos nós

Agora é esperar
que tudo ainda certo há de dar
e assim de ponto em ponto
nossos dez encontros
em família hão de ficar.

domingo, 26 de dezembro de 2010

Infinitas vezes.

Quantas vezes nos olhamos
e nada vimos,
quantas vezes nos falamos
e nada ouvimos.

Quantas vezes nos tocamos
e nada sentimos,
quantas vezes choramos
e quantas vezes não sorrimos.

Quantas vezes nos somamos
e quantas vezes nos dividimos.
E quantas vezes nos multiplicamos
e quantas vezes nos subtraímos.

Quantas vezes nos amamos
e quantas vezes nos traímos.
E quantas vezes nos odiamos
e quantas vezes nos ferimos.

E quantas vezes mais nos tocaremos
e quantas vezes mais nos amaremos,
quantas vezes mais nos dedicaremos,
quantas vezes mais um só seremos?

Infinitas vezes...

Sonho

O ano se acaba...
com ele tudo desagua.
O sonho de um ano atrás...
jaz.

O ano se finda...
a vida continua linda,
o sonho que hoje jaz,
se renova em paz.

O ano desvanece...
tudo de novo acontece,
e o sonho renovado
de novo e sempre sonhado
é sonho que não se esquece.

Tudo de novo adormece,
o sonho e o sol que nos aquece,
com o sonho renovado de novo sonhado,
o sonho com o ano se vai...
enquanto outro sonho acontece.

O último domingo

Hoje o último domingo
o último abrigo
o último abraço
de um último laço
jamais corrompido.

Um último olhar
um último cantar de um último zunido
o último amigo
o último contigo
no último domingo.

Hoje, no último domingo,
no último abraço
o último a estar contigo,
no último laço
no último traço
no último rabisco.

Traço contigo
no último abrigo
no último domingo
sendo o último e o mais antigo.

Trago comigo
neste e em todos os domingos
o teu eterno ombro amigo
e teus braços doloridos
abertos amplos e amplexos
o primeiro a estar comigo.

sexta-feira, 24 de dezembro de 2010

E se...

E se ninguém ler,
e se ninguém ver
e se ninguém olhar
ninguém ficará sabendo
olhando e lendo
o que se escreverá
e se ninguém vier
e se ninguém quiser
ainda assim será
será mais um tempo
onde a folha e o vento
juntos irão bailar
será natal e assim sendo
folhas mortas levadas ao vento
e brotos novos ainda que em tempo
flores novas ainda a olhar
e se ninguém quiser
mas mesmo que eu puder
versos teimosos ainda versar
e flores e versos destemidos
doridos e esquecidos
nesta noite Jesus há de estar.

quinta-feira, 23 de dezembro de 2010

A véspera da véspera

Hoje é véspera da véspera,
e vespertinamente o que virá?
decerto um novo dia
e sendo mais um dia novo
de novo e novamente
a noite virá...

Com ela os sonhos de uma vida nova e melhor...
e com ela os anseios de novos novembros e novos dezembros,
que com eles trarão, luz, estrela e clarão
de novos dias que ainda virão...

E como nós mesmos
parecidos com estes dias novos
que ainda não existem e que existirão
seremos os desenganos de nós mesmos ou a feliz confirmação
dos sonhos que hoje sonhamos
e que amanhã acordados virão.

Sonhos de novembros e dezembros,
pai e mãe de todos os janeiros
que frutificarão.

Hoje é véspera da véspera
amanhã só véspera
e depois de amanhã os sinos baterão.

Sonhos de noites de dezembro e de verão
sonhos por sonhar
e noites por dormir
e manhãs por acordar.

Sorria cara Karina!!! Sorria!!!

Cara Karina
mulher e menina
donzela e bandida
flor em botão.


Cara Karina
poema e poesia
dilema e alquimia
luz e escuridão.


Cara Karina
doce e ferina
dor e morfina
sorriso e canção.

terça-feira, 21 de dezembro de 2010

O último dia de primavera

Hoje é o último dia de primavera,
hoje à noite, a primeira noite de verão,
flores chuvas e sonhos,
desaguando em nova estação.

sexta-feira, 17 de dezembro de 2010

É tempo de paz

Há que se falar,
há que se postar,
há que ouvir, sentir e compartilhar...
há que dividir e multiplicar,
há que se ter um mútuo olhar.

Tem coisas que sentimos,
e nos sentimos coisas,
pequenos gestos canhotos ou destros,

Nos sentimos coisas,
quando só coisas sentimos,
falta afeto,
sujeito e objeto.

Falta gesto e gestão,
falta confraternizar
o meu o teu e o nosso coração.

Falta prezar
e não represar,
falta este dia
então terminar.

Há que um novo ano surgir,
um novo ir e vir
de um novo tempo
e recomeçar.

É tempo de paz.

quarta-feira, 15 de dezembro de 2010

Tô falando grego???

No maior tratado sociológico de todos os tempos, encontramos uma máxima das relações sociais:
Amar ao próximo como a si mesmo.
Como entender esse mandamento cristão de amar ao próximo e até os inimigos como a nós mesmos? Primeiramente torna-se necessário e responsável buscar o entendimento da exata contextualização da frase, nas traduções do Evangelho, escrito em grego, encontramos tres significados para a palavra Amor:
"O érōs de Eros (ἔρως) significa a palavra grega moderna “ erotas ” com a sua significante de “o amor (romântico)”. Entretanto, o Eros não tem que ser de natureza sexual. O Eros pode ser interpretado como um amor para alguém que você ama mais do que o amor de Philos da amizade..."
"A philos de Philia (φιλία), amizade no grego moderno, um amor virtuoso desapaixonado, era um conceito desenvolvido por Aristóteles. Inclui a lealdade aos amigos, à família, e à comunidade, e requer a virtude, a igualdade e a familiaridade."
"O agápē de Ágape (ἀγάπη) significa o “amor” no grego moderno atual. No grego antigo se refere frequentemente a uma afeição mais ampla do que à atração sugerida pelo ” eros “; ... Pode ser descrito como o sentimento de estar satisfeito ou de se ter em consideração elevada... "
(http://pt.wikipedia.org/wiki/Palavras_gregas_para_o_amo)

Esse amor, agápe, de um significado mais amplo, de uma consideração elevada, uma afeição mais ampla que o eros, uma relevância maior que os sentimentos mais particulares, esse amor, agápe, é que precisa ser entendido como o amor de amar ao próximo e até os inimigos.
Amando meu próximo na forma do agápe, eu não só o respeito, mas tenho por ele uma consideração elevada, tornando-se uma relação de conhecimento, preciso entendê-lo, compreendê-lo, saber de suas razões e paixões, e conhecendo seus sentimentos por mim e mais ainda por minha tabela de valores e minha práxis, me conhecerei melhor. Amar ao próximo como a si mesmo é antes de tudo um chamado à reflexão do que é o próximo, do que é si mesmo e do que é o amor e sua importância em sociedade. Aqui esse amor, agápe, torna-se um chamado à preservação da espécie humana, dos chamados valores humanos.
"O amor é o que o amor faz"*
O importante é o que esse amor, agápe, faz e exorta-nos a fazer, que todos tenham entre si elevada consideração e uma afeição mais ampla geral e irrestrita.
Em diplomacia chama-se de reciprocidade.
Bacana né?

* frase do livro: O monge e o executivo do escritor Hunter, James C, editora Sextante

Haja paciência!

Paciência dirão uns que é a ciência da paz e estarão certos, outros poderão entendê-la como atributo de quem sofre, na derivação latina patientis de patis = sofrer, estarão certos também, outros poderão encontrar um significado diferente ligado às virtudes e resignação.
O importante do entendimento dessa palavra é saber para que ela serve, entender o sofrimento e retirar dele lições é sinal de virtude, portanto a paciência pode e deve estar diretamente ligada a um processo de aprendizado. Quando não se tem alternativas diante do sofrimento é fácil ser paciente no estrito significado daquele que sofre, mas diante de alternativas que se contrapõem, a palavra paciência deve nos fazer refletir sobre o que seria melhor fazermos diante de um dilema. Analisar as possibilidades e as consequências de nossas atitudes diante do ser, nos remete a pensar sobre nossa prática e a que tipo de sociedade queremos construir.
Fazer aos outros o que quereríamos que os outros nos fizessem é um modo muito interessante e prudente de medirmos as consequências de nossas atitudes, portanto ter paciência, pode ser um processo de aprendizado do ser enquanto ser social, perder a paciência é perder oportunidades.
Escrever também é um bom exercício de paciência e reflexão.

terça-feira, 14 de dezembro de 2010

Poema do sol nascente

Deparei-me contigo
em esperanças de agosto,
o céu e o sol encontraram-se na lua
na rua o poeta exposto
a tecer madrigais para teu gosto

A flor de teu peito
abre-se em teu sorriso
ele, lindo, indo é o que preciso
fez-me bem e eu além,
fui-me a sonhar.

No sonho o oriente,
no céu a lua nua e tua,
trazendo sol nascente.

Um sonho de sorriso
de um poema de improviso
e de uma alma que me acalanta.

É tudo que preciso,
chuva de verão e de granizo,
depois um sol que se levanta.

É mar é lua é sol
depois tudo no arrebol
desfaz-se em fantasia.

É mais que galeão espanhol,
é flor de lotus e girassol,
é você invadindo minha poesia.

sexta-feira, 10 de dezembro de 2010

Sombras

sim era eu que me esgueirava pelas paredes,
como uma sombra,
como uma brisa mofa,
descartada de ar,
quase como nada,
quase como um não,
sendo um quase adeus de um quase perdão,
uma ofensa ferina,

que sendo morta é mortal,

sendo mulher é menina,
sendo inerte é puro flerte,
sendo nobre é plebeu,
sendo atalho vira estrada,
sendo então tudo e quase nada,

Era eu que me esgueirava,
buscando ser tua sombra e viver assim de ti...

Re encontros


Você me pede coisas que eu já não sei fazer.
Já não sei esconder esse amor que sinto por você.
Já não sei te olhar sem me apaixonar
e vc me pede para ocultar

já não sei estar com você sem mostrar meu amor, já não sei mais esconder a minha dor,
quantas vezes quis te amar na praça no carro e nos céus
quantas mágoas viraram traças corroendo meus versos no papel

Quero tanto te querer e me mostrar sem me esconder
quero ter-te em meus braços de braços abertos para o mundo
quero ter-te sob a chuva quase rara em nossas vidas
quebrar o guarda chuva e não viver as escondidas

Te quero aqui fora
e meu encanto é tão aberto que desse sono desperto sem querer acordar
sonho em ti acordado
apertado em minha garganta essa fome de ti e tanta que a vida é sempre sonhar
sei que tens a ti e aos teus
mas os teus teriam que também serem meus
não te esqueças que teu hálito é meu hábito e minha brisa teu pulsar é quase troar de quem em teu peito pede abrigo

essa cobrança quase mordaça é feito pedra na vidraça de minha alma cristalina é teu reflexo na minha retina e tua presença em minha alma, motivo de minha alegria.

Tears in heaven

Quando você foi embora,

tudo ficou cinza,
o sol não se pos,
nem nasceu...
nunca mais apareceu.

Quando você foi embora
quase não era eu,
e não sendo eu
nem saudades era,
era nulidade...

Sendo nenhum

Todos os sonhos estão ainda aqui,
e quase tudo ainda está por vir
e como se fosse ontem,
ainda dá tempo...

Éramos todos quase um,
e somos tantos hoje,
e nessa multidão ainda somos um,
sendo assim todos e sendo assim nenhum.

E tropeço em letra e me perco em senda e novamente as canções me afligem...
despertam em mim todos os eus que habitam em mim,
o cristão e o blasfemo,
o beato e o ateu,
Ásia e Prometeu,
o eu e o anti eu
a multidão e a solidão todos habitam em mim...

a poesia então é a minha companheira

I shot the sheriff

Eric Clapton está aqui,
em meus ouvidos
eternos zunidos...
folhas pisadas e ressequidas,
ainda dá tempo...

Todos temos nosso tempo,
é só escolher,
mas isso é tão difícil quanto,
o tempo para viver....

Queríamos mudar o mundo,
mas temos que mudar tudo,
o mundo sempre foi pequeno,
diante do que todos nós temos,
dentro de nós.

É preciso ser tranquilo,
amar a própria solidão.
Sereno, quieto e amigo,
e amar o inimigo
que mora em meu coração.

Nada sobrou

Já não sei quanto,
nem quando você chegou,
estive aí do seu lado e você não me viu
estávamos contentes, sorridentes
quando tudo acabou,
seu sorriso foi-se,
seu olhar murchou-se
tínhamos tanto pra transformar em realidade,
sobrou só a saudade
éramos dois e todos eram,
depois éramos tudo e todos,

tínhamos todos os sonhos
sobraram as promessas,
e agora tudo é solidão
quando você se foi eu também me fui
e todos deixaram de ser dois e fomos então nenhum...
e agora de tudo que sobrou nada ficou.

quarta-feira, 8 de dezembro de 2010

Preguiça...

Nos vasos o mato,
a erva daninha,
abandono de jardineiro,
e se demorar mais já é janeiro.

O sol ardente, candente, inclemente...
a água pouca já bem de noitinha,
mal dava para molhar os canteiros,
da dama da noite suaves cheiros,

e uma gostosa preguiça nos invade...

Mais fazer do que sentir.

O amor é o que o amor faz,
não se pode amar sem agir,
amar é mais fazer do que sentir.

terça-feira, 7 de dezembro de 2010

Banzai

1 hora de almoço no restaurante japonês : R$ 84,00.
1 hora no pronto socorro do hospital São Bernardo com direito a anti-alérgico e dieta com soro caseiro : não tem preço.


PS - Obrigado pessoas por me obrigarem a ir ao médico, estou bem melhor, fisicamente claro.

sábado, 4 de dezembro de 2010

Meio bicho, meio anjo e meio gente.

Somos todos iguais e somos todos diferentes,
desiguais e naturais concorrentes,
somos assim meio bicho, meio anjo e meio gente,
somos pobres ricos e ricos indigentes.

Somos tantos assim tão iguais,
uns tantos numa mesmice sem destino,
não refletem o que é o ser,
estão ainda na fase do ter,
homens com mente de menino.

Somos tantos assim tão iguais,
uns tantos num olhar peregrino,
todos na elevação do ser,
no coração a divisão do ter,
homens com mente de menino.

Eu sou assim tão igual,
mesmo sendo diferente,
busco a aurora reluzente,
meio morto e imortal,
sendo eu um ancestral,
e também um descendente...

sendo meio bicho, meio anjo e meio gente.

sexta-feira, 3 de dezembro de 2010

Todo verso

Faço um verso controverso,
que diante do adverso,
seja o verso e o reverso
do infinito universo.

Faço um verso invertido,
na linha todo cerzido,
alinhavado e cosido,
feito e acontecido.

Faço um verso submerso,
da poesia abstraído,
um verso todo avesso,
a todo verso não subvertido.

Futuro

Lembro de um tempo que ainda não veio,
de um dia ainda nascente,
de um instante que ainda há de vir,
de um semblante no sol poente,
de quem ainda há de surgir.

Lembro do presente que não existe,
do momento que ainda não há,
lembro do beijo que não desiste,
e da flor a desabrochar.

Sei que devo amar mais,
perguntando menos,
ouvindo o que todos temos,
antes de nossos funerais.

Sei que o tempo é vento,
que passando as mãos não retém,
digo aqui mais este lamento,
ouvindo o vento
dizer amém.

quinta-feira, 2 de dezembro de 2010

Para minha surpresa e de todos.

O dia quente e abafado, o carro estacionado junto a uma pilha de sacos de lixo, as pessoas no saguão da entrada da emergência aguardavam ansiosas que o relógio da parede indicasse cinco da tarde. Cinco em ponto nos dirigimos a um rapaz franzino de prancheta na mão diante da porta de acesso da emergência, um a um fomos dizendo os nomes de entes que ali estavam internados.
Box 9 e lá estava ela de máscara cirúrgica no rosto, eletrodos ligados a seu peito marcado de cicatrizes, na veia do pescoço a mangueira de soro e medicamentos diversos, de quatro bolsas penduradas num mancebo, no antebraço direito o medidor de pressão, o monitor registrando os batimentos, 95 por minuto, inúmeros hematomas espalhados em sua pele denunciavam a fragilidade dos pequenos vasos sanguíneos que se arrebentavam à menor pressão.
Quando me viu seus olhos brilharam, me chamando pelo nome foi logo me apresentando ao enfermeiro Fernando, depois à Ana Paula, depois ao Gilberto e assim foi me apresentando aos enfermeiros e médicos que à essa altura já havia conhecido todos, ela estava alegre, vivaz e com uma energia que eu não sabia de onde vinha.
Feito uma fenix ela surpreendera a todos, saíra do quase coma da noite anterior e agora ali ela estava lúcida.
Conversamos sobre seu estado, não adentrei muito nos diagnósticos todos desfavoráveis e quase sem solução, falamos de amenidades, de providências a serem tomadas logo que ela saísse de lá, falámos do tempo, dos detalhes do hospital, das pessoas que viriam visitá-la logo mais, mais uma vez nossa conversa fora superficial, eu ali diante dela, ainda menino, não me permitira abraçá-la e chamá-la de mãe.
Ainda não estava pronto.

quarta-feira, 1 de dezembro de 2010

Foi-se novembro

Chovia quando a febre tão repentinamente alta abalou sua consciência, chamando pela mãe e sentada na cama, recebia o socorro de neto e nora, o neto aos 13 de idade via-se na preocupação precoce de quem estava responsável por alguém tão frágil, a nora aos 33, sentia sobre a fronte a coroa de espinhos dessa aflição.
O carro para à porta, carregada nos braços fortes do amigo de sempre, rumam ao pronto socorro do instituto de cardiologia, no caminho a chuva inundava tudo, carros iam parando, a cidade de São Paulo num caos anunciado parava quase como um colapso. Dentro do carro a prece foi novamente o remédio providencial, quase que inexplicável os carros foram abrindo caminho e puderam continuar a viajem. Chegando no instituto foi colocada numa cadeira de rodas e irromperam emergência a dentro, médicos e enfermeiros rodearam-na de imediato, soro e sedativos, anti-térmicos e anti-convulsivos ministrados prontamente.
Ela aquietou-se na maca da emergência, seus pensamentos já não se manifestavam em palavras desconexas, lá pela meia noite, a chefe do plantão chama filhos e nora, informa que tudo está sendo feito, tudo, mas é grave.