terça-feira, 17 de agosto de 2010

Poema

Todo mês de junho torna-se especial, o tempo que não se decide se é frio ou quente acaba buscando sugestões de Salomão. Pela manhã a água em vapores escapa de meus pulmões dando um ar de serra ao se iluminar com o sol que desponta no horizonte, a brisa fria arfa em meus ouvidos como querendo que eu me aninhe novamente sob o cobertor. Tudo vai se iluminando e se aquecendo lenta mas obstinadamente.


Aos poucos o ar se aquenta, como cebolas vamos nos despindo das diversas camadas de roupas que vestimos quase todas as manhãs. Perto de casa ainda os raros pássaros, teimam em voar livremente, quase como provocação, sentem também o calor que aos poucos invade tudo que não está sombreado. Nas sombras ainda resiste um ar frio delatando um inverno que célere aproxima-se trazendo mais frias manhãs.

Ao meio do dia, o sol como dono do tempo já aqueceu até o ar que se escondia na sombra, tudo é luz e um calor gostoso que mais parece uma convocação à preguiça. Os carros cruzam a pista , os motoristas quase todos atrás de seus escuros óculos, o da lotação de camisa aberta no peito resmunga coisas que ninguém a não ser ele compreende entende e escuta. As pessoas andam apressadas, não entendem que o inverno é convite à hibernação, ou não podem nem entender, a produção não pode parar e ela, a produção, assim comanda o modo de viver.

A tarde agora presente vai aos poucos avermelhando o dia, como quem vai se enrubescendo após picante comentário soar aos ouvidos, mas tão de perto que a água em vapores umedece a pele do pavilhão causando arrepio na própria alma.

Essa tarde tão colorida vai também trazendo aquela brisa fria, aquele ar que se escondia no sombreado, anunciando o inverno que célere trará mais frias manhãs. Aos poucos, como cebolas, vamos retomando nossas camadas de roupas buscando reter na pele aquele calor gostoso que mais parecia um convite à preguiça. Os carros continuam cruzando a pista, os motoristas quase todos com os vidros fechados, a camisa do motorista da lotação também fechou-se, entretanto abre-se um sorriso em sua cara, talvez chegue com o fim da tarde a hora boa de rever alguém.

O dia já, que se acoberta sob o manto da noite que se apodera de tudo, vai iluminar outras paragens, outros ares e outros olhares. O ar que antes era frio, agora gela. As pessoas continuam a caminhar apressadas, encolhidas em si mesmas, agarradas a si mesmas como num auto abraço, querendo a todo custo reter aquele calor gostoso que mais parecia um convite à preguiça.

Aquela manhã de hoje já se foi, agora é noite, ainda vejo pequenas e esmaecidas estrelas no céu, teimam em brilhar livremente, quase como provocação.

A água em vapores escapa de meus pulmões dando um ar de serra ao se iluminar com a lua que desponta no horizonte, a brisa fria arfa em meus ouvidos como querendo que eu me aninhe novamente sob o cobertor.

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