Hoje pela manhã bem cedo, num táxi vermelho, rumamos para o centro de São Paulo, ruas ainda sonolentas, mas que já ensaiavam o ritmo frenético do vai e vem interminável que logo mais se estabeleceria na maior cidade do país, pouco mais de vinte minutos de viajem estacionamos na rampa destinada às ambulâncias e carros de socorro, porém não tínhamos pressa, descemos devagar, passo a passo com a bengala. Nos dirigimos ao setor de diagnóstico por imagem, lá já aguardavam dois senhores sentados lado a lado em silêncio, carregavam no semblante a solene autoridade dos descendentes de Angola. Além dos dois senhores em silêncio, outra dupla entretinha-se numa dessas conversas amenas sobre o dia a dia de todos nós. Sentamos lado a lado sem ter muito assunto para conversar, às vezes fico assim sem assunto para conversar com ela, parece-me uma pessoa estranha que acabara de encontrar no elevador, mas nosso encontro ali não era o primeiro, já se dera há muito tempo atrás, naquele mesmo hospital, já estivéramos ali bem juntos, tão juntos que para nos separarmos fora um parto.
Na avenida Brigadeiro Luiz Antonio as pessoas passam apressadas, cabelos vermelhos, azuis, gente de gravata e gente de sari, mulheres muçulmanas e velhos judeus, todos passavam como se aqui fosse a pátria do evangelho de todos os povos e tolerância fosse um atributo de todos, pelo menos naquela hora da manhã de hoje.
Ainda no setor de diagnóstico de imagem aguardávamos a moça da recepção chegar, eram 7 da manhã e o exame estava marcado para 8h40min, e assim sem ter muito o que fazer as palavras foram aparecendo e ensaiávamos uma conversa fraterna, falávamos do futuro, do futuro dela e do meu futuro, talvez esta fosse a continuação de uma conversa que começara muito tempo antes, só que hoje eu já sei falar, falamos de futuro, fizemos planos, novamente o destino nos quis naquele prédio a traçar planos e projetar o futuro.
Ali naquele prédio a cinquenta anos atrás ela deu à luz um menino, quase pude ouvir meu próprio choro naquela manhã de novembro onde nu e trêmulo estive pela primeira vez em seus braços, cinquenta anos depois era ela que se amparava nos meu braços. Cinquenta anos depois foi hoje.
O mundo gira e dá voltas! E daqui alguns anos serei eu que vou te amparar em meus braços!
ResponderExcluirPor isso tô muito feliz que vc ta magrinhooo.
adorei esse texto